Eu sou de um tempo em que viajar de avião era quase um evento social. Algumas pessoas mais conservadoras ainda usavam roupas domingueiras para a viagem, que se constituía em um momento esperado e, até certo ponto, especial em sua natureza. Verdade que não havia mais o charme de um you're part of his work, the thing that keeps him going… mas um certo encanto subsistia, preso nos envelopes com o timbre dos tickets aéreos, nos quais se podia ainda ler a convenção de Varsóvia. Eram tempos de pratos de louça e talheres de aço, estampados com o logo

Malgrado meu, vôos em turbo hélices contaram-se poucos para mim, nestes tempos em que o comandante recebia um tratamento de capitão de transatlântico, respeitado pelas vidas que levava em suas mãos. Atualmente já os ouvi serem chamados de “motoristas” de um grande “ônibus com asas” (sic). Nessa minha época, o circunstante que embarcasse em um aeródromo, seria respeitado pelas “equipagens” tanto em terra quanto embarcada. Atendido cortesmente em sua condição de “pessoa em trânsito”, tesourinhas de unha não se constituíam em instrumentos do terrorismo internacional, carimbados pelo "eixo do mal". Por um eventual esquecimento dos amantes da lei de Gérson, não existiam passagem de graça “por bom comportamento”. Não havia sala vip, mas você embarcava, decolava e chegava mais ou menos no horário, pendendo o clima, e no aeroporto apresentado em sua passagem. Pampulha era nome de aeroporto. Aplaudia-se o piloto na aterrissagem, quando o avião tocava o solo.
Eu gosto de viajar. A trabalho, inclusive. Tenho mais horas de vôo que muito piloto iniciante por aí (verdade que isso me ensinou a decolar nem avião de simulador). Achava que já tinha visto quase tudo neste campo... Silly rabbit.
Como já seria de se esperar, o “caos aéreo”, este termo cunhado para representar todas as ignomínias que se impingem aos viajantes hoje, me presenteou com mais um choque de realidade. São duas e meia da manhã em Salvador. Saí de Brasília com duas horas de atraso, de um vôo que deveria decolar às 20h40. Eu SEI que o avião para Maceió vai ficar preso pelo tempo e não vai descer tão cedo no 2 de julho nem que “painho” fale com São Pedro. Os minutos de frio se arrastam e não existe um funcionário de terra da companhia aérea. Então, me esclarece, por que não me mandam logo para o hotel? O vôo deveria ter saído daqui a mais de uma hora, a previsão é para amanhã, e o aeroporto continua fechado.
Não peço muito... não faço questão do ticket de sandwich para um Bauru e coca “grátis”, para saciar minha fome na lanchonete modorrenta, onde o atendente sonolento preparará o alimento com as alfaces murchas de ontem. Não quero “bufandas ni paraguas”. Eu só quero dormir e um tratamento minimamente de gente. Um dry martini seria um bom começo. Here´s looking at you, kid.
The Lurker Says: Those who would give up essential liberty to purchase a little temporary safety, deserve neither liberty nor safety (Benjamin Franklin)